domingo, 26 de abril de 2009

O Português de Hoje e as Invasões Francesas

Comemoram-se os 200 anos das Invasões Francesas e da entrada em Portugal das tropas napoleónicas, acompanhadas por um enorme exército espanhol. No fundo, estava a ser executado o tratado Secreto de Fontainebleau, que dividia Portugal em três reinos : As Lusitânias Setentrional, Central e Meridional. Um deles ficaria para a coroa Espanhola, outro para o autor do projecto da partilha proposta, Manuel de Godoy, o Príncipe da Paz, valido do Rei de Espanha Carlos IV, e um terceiro para o Império Francês. Com as traições e discussões sobre as preferências entre as amizades com os franceses ou com os ingleses, os responsáveis da governação e a gente da capital esqueceram-se de que o que estava em jogo não era a escolha entre franceses ou ingleses e sim e apenas a nossa independência. A sorte para o país foi o facto de D. João VI, com a sua timidez e desconfiança pelos conselheiros, a maior parte uns fracos e vendidos aos interesses estrangeiros, vendo o que tinha acontecido quando Napoleão apanhava as cabeças reinantes dos territórios que ocupava, acabando desse modo com qualquer tipo de resistência, decidiu embarcar à última hora para o Brasil, frustrando os fins estratégicos do Império. Apesar da nossa independência se ter mantido através de todas as vicissitudes que desabaram sobre o território lusitano, o Povo sofreu martirizado a passagem pelo país dos soldados de Junot, de Massena e de Soult. Morreram milhares de pessoas passadas pelas armas num cortejo horroroso de sangue e de morte. Os franceses roubaram e saquearam tudo o que puderam, mataram velhos e doentes que não tinham possibilidade de fugir para longe do seu encalço, violaram mulheres, trucidaram crianças, causando desgraças horrorosas do Norte ao Sul do País.
A resistência e a heroicidade da população portuguesa foi determinante para a expulsão dos franceses e dos seus acólitos espanhóis. Não foi só o exército regular anglo-português que conseguiu a proeza de correr do território as poderosas e até então invencíveis legiões francesas. Foi o espírito de sacrifício de todos os estratos sociais da província que reconquistaram a liberdade para Portugal, fazendo frente, mal armados, aos exércitos dos generais franceses mais notáveis de então.
É esta razão porque está na hora de se evocar a abnegada população que fez frente aos exércitos franceses, mesmo contra a vontade dos afrancesados e de todo o tipo de gente que traiu a colectividade onde nasceu por falta de patriotismo e por muita cobardia. Muitas entidades autárquicas já começaram a homenagear os conterrâneos, seus antepassados, que sofreram, lutaram e se sacrificaram pela santa liberdade portuguesa.
Na Casa da Beira Alta do Porto, tive a oportunidade de assistir a uma sessão sobre a Guerra Peninsular e a Literatura Portuguesa, orientada pelo poeta e escritor Dr. José Valle de Figueiredo e em que estiveram presentes vários intelectuais, A enorme assistência esteve encantada a ouvir passagens referentes à Guerra Peninsular dos livros de Abel Botelho “As Mulheres da Beira”, de Aquilino Ribeiro “O Valeroso Milagre”, de Camilo “Onde Está a Felicidade?” , “O Domínio do Ouro”e “As Noites de Insónia”,os contos de Júlio Dantas “O Tambor” e “Três Alferes”, as publicações de Arnaldo Gama “O Segredo do Abade” e o “Sargento Mor de Vilar”e o livro de Raul Brandão “ El Rei Junot”. Enfim, a literatura que tão bem atirou para a história e para a memória dos portugueses os momentos terríveis que a nossa gente viveu, não falando já de publicações actuais, como o livro histórico e bem documentado “Aqui não passaram!” do General Carlos Azeredo.
Ora, uma das funções das autarquias é celebrar datas históricas que revelem momentos da vida portuguesa que devem ser recordados por todos. E Vizela, além de toda a sua colectividade que se bateu bravamente contra os invasores, tem um herói a recordar, o célebre Frade Branco, o dominicano José de Jesus Maria, que chefiou um grupo armado na defesa de Amarante e ficou conhecido pela sua infalível pontaria demonstrada em combate.
Por esse motivo, desafio os responsáveis autárquicos do meu País a levarem a cabo sessões culturais e manifestações de homenagem aos bravos e mártires que resistiram à tropa napoleónica para manter Portugal Independente, nas comemorações dos duzentos anos da Guerra Peninsular.

António Moniz Palme

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