domingo, 29 de março de 2009

CAMPANHA de 1801

No princípio da Campanha de 1801
a Viscondessa de Balsemão fez o seguinte soneto:

São de bronze os ecos repetidos
Por entre os fundos vales e os oiteiros;
Marcham sem susto impávidos Guerreiros
A morrer, ou vencer já decididos

Entretanto mil ais enternecidos
Levam consigo os zéfiros ligeiros;
São talvez os suspiros derradeiros
Desses que morrem, mas sem ser vencidos

Lá perde um Pai um filho carinhoso
Aqui o irmão, além mais a consorte
A pedra chora de querido esposo

Teme o mortal a sua infausta sorte,
Mas grita a voz no peito valoroso
Ó Pátria, Ó honra, Ó sacrfício, Ó morte.

EMBLEMA E SIMBOLISMO




O EMBLEMA

Desenho emblemático da autoria de Carlos Alberto Lourenço, beirão de Penalva do Castelo (na altura sub-director do Jornal“ O Primeiro de Janeiro”), aprovado na Sessão de Direcção de Julho de 1958.

Simbolismo: As quatro Montanhas ( Caramulo, Gralheira, Montemuro e Lapa) simbolizam as terras elevadas da Beira Alta, facto de que provém o nome da Província. A montanha que se sobrepõe representa a Serra da Estrela, a maior e mais bela de Portugal Continental, visível em toda a Beira, com o seu cume coberto de branca neve. A coloração verde significa a verdura das suas encostas e vales, cobertas de pinheirais, de olivedos, de vinhas, de pomares e de searas, e de toda a vegetação rica e dadivosa.
As linhas azuis no sopé das montanhas simbolizam os três maiores e mais representativos rios da Província: - o Mondego, o maior rio nascido em Portugal Continental, elo de união entre os distritos da Guarda e de Viseu; o Vouga, cantado pelos Poetas, contornando um vale fértil e de extraordinária beleza, prenhe de atractivos turísticos; o Dão – que dá o nome aos vinhos de mesa cuja fama ultrapassou já as fronteiras do País.
O azul escuro simboliza a noite dos tempos, em que brilha uma estrela luminosa. É a estrela que deu o seu nome aos Montes Hermínios, onde Viriato e os Lusitanos, na vigília de Tantas noites, forjaram a independência de uma Pátria que haveria de chamar-se Portugal.
Os escudetes com as armas de Viseu e da Guarda e que nos aparecem com um motivo acessório do conjunto, simbolizam o valor e as virtudes das gentes dos dois Distritos. A águia do timbre, representando uma ave, cuja coragem é proverbial e que tem por “habitat” os mais altos e escarpados cumes das montanhas, é além de ornamento heráldico, como que um complemento justificativo da divisa.

Divisa: - MACTE ANIMO, SIC ITUR AD ASTRA! tradução livre: « Coragem, só com ela se alcançam as alturas! »

quinta-feira, 26 de março de 2009

Nas Comemorações dos 200 anos das Invasões Francesas,a Casa da Beira Alta promoveu, no dia 21 de Março de 2009,uma conferência sobre "A Guerra Peninsular, a Literatura e a Beira", proferida pelo Dr. José Valle de Figueiredo.


A GUERRA PENINSULAR, A LITERATURA E A BEIRA



A Guerra Peninsular, designação que se usa para o período das Invasões Francesas – que verdadeiramente foram franco-espanholas, uma vez que os exércitos franceses e4ntraram em Portugal acompanhados por forças espanholas – abrange o início do século XIX e estende-se até 1814, ano em que as tropas anglo-portuguesas puseram fim às hostilidades entrando em França, aí vencendo os exércitos napoleónicos.
Cedo se reflectiram essas invasões na Literatura portuguesa, com relevo inicial para a Poesia, tanto culta como popular, multiplicando-se, neste último caso, em centenas de produções.
Com o desenvolvimento do Romance Histórico também este período alcançou expressão os nossos maiores Autores, surgindo em obras de Camilo Castelo Branco, Pinheiro Chagas, Rebelo da Silva, Arnaldo Gama, Conde de Fialho, Alberto Pimentel, Carlos Malheiro Dias, Fonseca Benevides, Campos Júnior, Júlio Dantas, Aquilino Ribeiro, Tomaz de Figueiredo e, já no final do século XX e princípios deste , em Autores como Álvaro Guerra, Mário Cláudio, Vasco Graça Moura, Helena Rainha Coelho, José Norton, Helena Campos Henriques, João Pool da Costa, César Luís de Carvalho, Lourenço Pereira Coutinho e outros.
Refira-se, também, que escritores ingleses tão importantes como Arthur Conan Doyle, Edward Quillinan, Bernard Cornwell e C.S. Forester têm obras onde surge este período da História de Portugal.
Deverá referir-se, entretanto, como curiosidade, que houve ficcionistas nacionais que embora não tenham inserido na sua obra literária episódios ou cenas ocorridas durante a Guerra Peninsular, vieram a tratá-la em textos históricos e ensaísticos, como sejam os casos de Raul Brandão ( “EL-Rei Junot”), Abel Botelho (“ A Península Ibérica Contra Napoleão”) e João Grave (“O Passado”), para além de Pinheiro Chagas que, tendo entretanto, escrito o romance “ Os Guerrilheiros da Morte” também tratou o tema do ponto de vista estritamente histórico nas suas “ Migalhas de História Portuguesa” (1893).
Muitas edições das obras dos Autores apresentados enriqueceram-se com ilustrações assinadas por grandes Artistas, como Augusto Gomes - o maior ilustrador das obras de Arnaldo Gama, que, aliás, contaram, também, com a estimável contribuição de Isolino Vaz e Gouveia Portuense – Maria Vasconcellos – esquecida irmã de Teixeira de Pascoaes – José Garcês e José Laranjeira, além de outros.
Registe-se ainda, que o palco não se privilegiou da Guerra Peninsular ou Guerra da Independência, devendo salientar-se, apenas, a adaptação teatral de “ O Sargento-Mor de Vilar” em 1874, por Augusto Garraio – que teve êxito estrondoso – e a opereta “ A Invasão”, com letra de José Galhardo e música de Raul Ferrão, estreada em 1952 no Teatro Avenida, em Lisboa, com Mirita Casimiro e, posteriormente, muito popularizada por Amália Rodrigues através da canção “ Lisboa não sejas francesa!”.

José Valle de Figueiredo

A GUERRA PENINSULAR, A LITERATURA E A BEIRA


Valeroso Milagre


“ - Fujam!...Fujam!... - era o brado aflitivo das aldeias naquele grande e luminoso dia de verão, já a milheira enchia o papo nos painços maduros, e o pintor – a poucos passos de S. Tiago, palpador de bago – andava pelas vinhas pintando.
- Fujam para o convento da Tabosa!!... para o convento da Tabosa!! – instigavam-se, uns aos outros, cego outro instinto que não fosse o da fé milenária na sombra imensa, inviolável, da casa de Deus. E os caminhos que iam bater ao mosteiro enegreceram de gente da planície e da serra, com alfaias em fardos, os filhos às cavaleiras, os velhos em padiolas, a fugir dos franceses.»

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“Insensivelmente, como um eco que vinha de fora de todas as quebradas beiroas, passava-lhe no espírito, em antinomia infamante do sinal da cruz, o corriqueiro sinal de Junot:

Ó compadre, conheces o JINÓ?
Fácil é de tirar pelo sinal:
É um francês, general,
Ladrão, usurário,
Adversário
Da Santíssima Cruz.”

Aquilino Ribeiro
In “ ESTRADA DE SANTIAGO”