terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Jantar de Natal

No dia 19 de Dezembro, realizou-se o tradicional jantar de Natal da Casa da Beira Alta. que decorreu num ambiente de alegria, amizade e são convívio. Comeu-se a tradicinal e beirã sopa da Natal, o "fiel amigo", bem acompanhado, regado com azeite beirão, bolo-rei, rabanadas e leite creme.
A abrilhantar a noite, o Trio Saint-Petersburgo tocou música clássica e algumas canções tradicionais da Rússia.


1 comentário:

  1. S O P A D E N A T A L

    Por motivos particulares inadiáveis, não pude estar presente na Ceia de Natal da CBA. Sei que tudo correu de modo excelente e que o Quim Almeida tornou a fazer a Sopa de Natal, tão característica de algumas zonas da Beira Alta, o que me faz recordar a minha infância e juventude em Vila Franca das Naves, nesta caminhada de vida que, como refere Manuel António Pina, é um rio que corre para a nascente.
    È sobre esta sopa que desejo escrever algo, depois de troca de impressões com gente amiga e ligada ao conhecimento dos usos e costumes da gente da Beira Interior e que, infelizmente, se vêm perdendo, gradualmente.

    a) O Natal até aos meus 11 anos, era passado em casa do meu tio, João Luís da Costa Pena e aí, na cozinha , juntava-se a Senhora Cassilda que vivia com os meus Pais e muitas vezes a Senhora Céu, cozinheira afamada de Trancoso. Ambas faziam de modo idêntico a chamada Sopa de Natal, ou melhor, da Consoada, servida antes da entrada do fiel amigo com batatas e couves.

    b) Muitos anos depois, encontrei, para gáudio meu, esta mesma na sopa na CBA, nas ceias de Natal que ocorrem todos os anos, feita pelo nosso associado e amigo, Quim Almeida, natural do concelho de Fornos, pois era prática também na sua família, e apenas na noite de Consoada, comer-se tal sopa. Trata-se de uma sopa muito simples, banal mesmo, mas muito gostosa e aqui vai a receita amavelmente cedida pelo mesmo:
    * coze-se um pouco de bacalhau, coa-se a água e retira-se o bacalhau.
    * na água de cozer o bacalhau, cozem-se couves ( troncha, bem repolhuda) com bastante alho, bom azeite e, quase no fim da cozedura, junta-se bom pão regional e o bacalhau aos pedaços que se tinha então cozido.
    * vai à mesa em jeito de caldo bem quente num misto de água, couves, pão e pequenos pedaços de bacalhau.
    Nota: Conforme as terras, conheço pequenas variações sobre o cozinhar dos alhos/ azeite e sobre a textura do caldo/ ensopado/ açorda/ sopa seca, mas a matriz é muito idêntica.

    c) Sem poder separar o contexto sócio / económico da vivência da minha infância numa aldeia da Beira Alta nos anos 60, tenho para mim que, se em algumas famílias tal sopa constituía o primeiro prato, para a grande maioria das famílias era uma sopa que presidia como prato único na noite de Natal, pois,
    - o quintal/ horta dava as couves; o pão, cozido no forno comunitário, era algo que não ia faltando,
    - e, quantas vezes, eram usadas as partes menos nobres do bacalhau ( barbatana e cauda), mas suficientes para dar o "gosto de Natal" que os magros rendimentos familiares não permitiam obter de outra maneira.
    Ao virem servir para casa de senhores abastados e de gente remediada, as antigas cozinheiras, empregadas de servir, afilhadas, gente humilde do campo, introduziram esta sopa simples que, mais do que ser de rico ou de pobre é uma sopa que, para quem a aprecia, aquece o estômago e aconchega a alma, sobretudo naquela Noite Santa.

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