domingo, 21 de fevereiro de 2010

"A Mãe" de Bertolt Brecht

Inserida nas nossas propostas de idas ao teatro e num protocolo existente entre o Teatro Nacional São João e a Casa da Beira Alta, no dia 21, um grupo de 50 pessoas assistiu à representação de “ A MÃE” de Bertolt Brecht, apresentado pela Companhia de Teatro de Almada, encenada por Joaquim Benite e interpretada por um elenco de 18 actores, encabeçado por Teresa Gafeira. É ela que interpreta, magnificamente, Pelagea Vlassova - a "mãe" que aprende a interpretar a luta do seu filho. De dona de casa apaziguadora, transformar-se-á em revolucionária activa, porta-estandarte de uma utopia nova, consequência da aprendizagem e do confronto com o mundo e com a morte do filho.Trata-se de uma obra com um cunho político fortíssimo e com características narrativas especiais, cuja acção decorre na Rússia nos alvores do século XX até à revolução bolchevique de 1917. Como em tantas outras obras de Brecht, as canções assumem um papel central, interrompem a acção, sintetizam ideias, acrescentam dinâmica e vibração ao texto. Joaquim Benite optou pelas canções originais de Hanns Eisler, que surgem aqui acompanhadas por um conjunto de trompete, acordeão e percussão.
Num despojamento cénico, os actores (uns já consagrados, outros em início de carreira) impõem-se, numa interpretação cheia de equilíbrio e dinamismo.

“ AVÉ ÁGUA! SUAVE E MANSA…”

No dia 20 de Fevereiro teve lugar uma sessão de apresentação do livro "Avé Água! Suave e Mansa..." da autoria da nossa associada Maria da Conceição Ramajal Jorge. Na ausência da Presidente da Direcção, coube ao Secretário, Dr. Ângelo Henriques, fazer a apresentação da escritora e da sua obra.
Iniciou a sessão dizendo caber-lhe fazer as honras da Casa e emprestar àquele singelo acto, a dignidade e a galhardia com que a CBA sempre recebe os seus convidados palestrantes. Se de algo se penitenciava era pelo facto de a sua vida profissional e particular, não lhe terem permitdo ter o tempo físico e sobretudo mental para poder, naquela sessão, recitar um poema da autora.
Que dizer de uma autora já consagrada, na casa dos 80 e poucos anos, com 17 livros publicados entre poesia, contos e novelas, histórias para crianças, sendo o seu primeiro soneto dado à estampa aos 14 anos?
A cidade do Porto recebeu-a ainda jovem, frequentou tertúlias e movimentos poéticos mas, na Água Suave e Mansa... da sua escrita, nunca esqueceu (era impossível esquecer), a sua terra natal, Forcalhos, a sua “pátria chica”, a raia sabugalense, onde o Amor expresso e sentido nunca foi A Fundo Perdido.
Maria Ramajal, a senhora Na Flor da Velha Idade, continua a preencher as nossas estantes da alma com a sensibilidade, o amor que inculca na arte da palavra reveladora de uma vida cheia, profunda de sentimentos, de percursos vivenciais observados com os olhos da alma, quer perpassem pelos Ventos de Leste Raianos, quer repousem nas encostas dos
Contos de Miragaia.
A sua força, a sua coragem e alento, a multifacetada criatividade da sua obra sempre reconhecida, só nos poderia legar um Amor de Sombras e Luz onde os pontos cardiais se unem para um Salvatério providencial e em que a música da sua lira segue as vozes do vento, sejam elas de sofrimento ou de fugaz contentamento.
Para terminar, disse esperar sinceramente, que o Professor Arnaldo Saraiva (que ainda recentemente esteve na Casa da Beira Alta) faça uma nova Antologia da “ Poesia das Beiras” mas no feminino e que Maria Ramajal aí figure, pois a sua obra merece esse digno e justo reconhecimento.

A autora interveio,agradecendo a presença de todos e afirmando que "o tempo corre depressa demais e não sei quando vou parar." " Escrever é uma companhia, evita a solidão" e "a poesia dá gosto à vida". Em seguida, o Dr. Miguel Leitão leu um texto e declamou dois poemas da autora e várias poetisas e amigas leram diversos poemas. Seguiu-se a intervenção do Dr. Ignácio Pignatelli que referindo-se ao livro " Avé Água! Suave e Mansa...disse tratar-se de " um livro sobre o sentir da água límpida, como um cantar de um regato solto nas penedias, fresco, qual água revolta em tanque de aldeia ou que corre do alto da serra". Felicitou a CBA por esta sessão, pela abertura aos poetas e à qualidade poética do trabalho de Maria Ramajal. Seguiu-se uma sessão de autógrafos.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Reconhecer Vergílio Correia

No dia 6 de Fevereiro, numa iniciativa da Câmara Municipal do Peso da Régua e da Associação Portus Cale, foi homenageado Vergílio Correia Pinto da Fonseca, nascido em Peso da Régua a 19-10-1888 e falecido em Coimbra a 3-6-1944. Usaram da palavra José Valle de Figueiredo "Re-apresentação de Vergílio Correia", José Augusto Maia Marques " Vergílio Correia e a Arqueologia", João Bigote Chorão " Vergílio Correia e João de Araújo Correia", Manuel Varela " Lembrança de Alice e Vergílio Correia", António Leite da Costa " Vergílio Correia e Coimbra", Paulo Sá Machado " Vergílio Correia, o Cardeal Cerejeira e Nogueira Gonçalves", César Luís de Carvalho " Vergílio Correia e Lamego".
Embora licenciado em Direito, foi à Antropologia e Etnografia que acabou por se dedicar. Colaborou nas revistas " A Rajada", "Águia " e " Dionysos", tendo publicado, nesta última, o seu primeiro artigo " A igreja de Lourosa da Serra da Estrela" e escreveu a primeira reflexão sobre etnografia (bonecos de Estremoz, tapetes de arroiolos, entre outros). O único estudo relacionado com a sua terra natal foi sobre a estação romana " Fonte do Milho", em Poiares. Em Coimbra, participou na revista "Biblos" e foi Director do jornal Diário de Coimbra. Assumiu a direcção do Museu Machado de Castro em acumulação com a sua actividade de professor de História da Arte e Arqueologia.A projecção que Conimbriga hoje tem deve-se a Vergílio Correia.
Deu ainda a conhecer o património artístico de Lamego, Tabuaço, Armamar, Tarouca e Resende. Em " Artistas de Lamego", publicado em 1923, reune os nomes de todos os artistas da cidade e é o autor do estudo "Vasco Fernandes mestre do retábulo da Sé de Lamego". Foi dos etnógrafos portugueses masi activos da 1ª República.
A morte prematura, em 1944, interrompeu uma carreira brilhante, indissociável do Inventário Artístico Nacional e da investigação de Conímbriga.